Histórias de Adruzilo Lopes no Rali de Portugal
Histórias de Adruzilo Lopes no Rali de Portugal contada pelo piloto.
‘Ou começas a andar mais devagar, ou fico já aqui!’
A 1.ª história foi logo no meu primeiro Rali de Portugal [1988], que fiz com o Toyota [Corolla GT] com que tinha feito o troféu [de Velocidade], no ano anterior.
Nessa prova, levei comigo o meu irmão Vítor [Lopes] como navegador.
Lá fui andando, ao meu ritmo e, quando chegámos a Fafe, ele virou-se para mim e disse-me: ‘Ou começas a andar mais devagar, ou fico já aqui!’ Nessa altura, ainda não existiam parques de assistência, que eram feitas à beira da estrada. Então, quando foi a altura de sair para o troço seguinte, que era Rossas, eu não fui de modas e arranquei para a estrada sozinho no carro, sem o meu irmão.
Mas lá comecei a refletir melhor e pensei que não me iriam deixar entrar no troço sozinho.
Por isso, virei para trás e fui buscar o meu irmão, que só aceitou voltar a sentar-se a meu lado depois de eu lhe prometer que iria passar a andar mais devagar.
Claro que não fiz nada disso e, como tinha o n.º 87, era obrigado a passar três ou quatro carros, por troço, sempre no meio do pó. Acabei a prova em 18.º da geral, como melhor estreante… Mas não foi nada fácil, com aquele carro, que não tinha recebido nenhuma preparação especial e estava tal como tinha feito o troféu no ano anterior. De tal forma que, na última etapa, que ligava Viseu ao Estoril, o carro estava preso por arames. E quando digo arames, eram mesmo arames, que uniam a parte da frente à parte de trás. E era uma coisa impressionante, pois o chassis estava partido em dois e a frente passava o tempo a ‘flutuar’ sozinha!
Claro que não fiz nada disso e, como tinha o n.º 87, era obrigado a passar três ou quatro carros, por troço, sempre no meio do pó. Acabei a prova em 18.º da geral, como melhor estreante… Mas não foi nada fácil, com aquele carro, que não tinha recebido nenhuma preparação especial e estava tal como tinha feito o troféu no ano anterior. De tal forma que, na última etapa, que ligava Viseu ao Estoril, o carro estava preso por arames. E quando digo arames, eram mesmo arames, que uniam a parte da frente à parte de trás. E era uma coisa impressionante, pois o chassis estava partido em dois e a frente passava o tempo a ‘flutuar’ sozinha!
Troço sem notas
A 2.ª história passou-se no meu primeiro ano no Troféu [Citroën] AX [GTi, 1992].Saí de Ponte de Lima, para ir para [os troços de] São Lourenço e Orbacém e, a meio da ligação, o meu navegador, que era o António Abreu, virou-se para mim e disse-me que não tinha as notas dos troços. Então, pelo rádio pedi ao [João] Anjos – eu andava com o carro dele – para nos ir levar as notas ao princípio do troço, mas ele disse que já não havia tempo e então decidimos partir mesmo sem notas. No início do troço, existia uma parte em que o público estava todo de um lado e o Abreu, para as pessoas não perceberem que ele estava sem notas, pegou num caderno e pô-lo nos joelhos, como se estivesse a ditar.
Irritado, atirei-lhe o caderno para o chão do carro, mas ele conseguiu chegar ao caderno e voltou a pô-lo no colo e eu voltei a atirá-lo ao chão. Isso foi no ano em que, no Sopete, o [José Carlos] Macedo teve um grande acidente, na zona do Cerquido.
Irritado, atirei-lhe o caderno para o chão do carro, mas ele conseguiu chegar ao caderno e voltou a pô-lo no colo e eu voltei a atirá-lo ao chão. Isso foi no ano em que, no Sopete, o [José Carlos] Macedo teve um grande acidente, na zona do Cerquido.
Então, na parte final do troço, o Abreu, com o ‘stress’, só dizia ‘Esta é a curva do Macedo, esta é a curva do Macedo’.
Eu passava e ele dizia: ‘Não, não era esta, é esta agora!’ ‘Esta é que é a curva do Macedo’.
A certa altura, eu, farto de ouvir aquilo, disse-lhe que, se ele não sabia qual era a curva do Macedo, então o melhor era calar-se de vez. E ele calou-se… e lá passámos, a fundo, a curva do Macedo, que ele sabia qual era, é verdade, mas desde que tivesse as notas consigo!
Rovanpera, ‘agora, vou ‘dar-te’ três minutos!’
Em 1998, com o [Peugeot] 306 Maxi, eu estava à frente, no ano em que veio a equipa oficial da SEAT, com o [Harri] Rovanpera e o Oriol [Gómez].Saímos da assistência, em Amarante, em direção a Viseu, para o troço de Vila Nova de Paiva, um troço longo e muito duro, junto ao aeródromo e que o Rovanpera já tinha ganho.
Antes da partida, cheguei à beira dele e disse-lhe: ‘Agora, vou ‘dar-te’ três minutos!’. Então, ele arrancou feito louco… mas, logo a seguir, mesmo antes de eu partir, o troço foi neutralizado e, nas calmas, segui até ao final. E lá esteve o Rovanpera, à minha espera, furioso.
Mal cheguei, veio ao pé de mim e disse-me logo: ‘Fizeste de propósito! Tu já sabias que o troço ia ser neutralizado! E eu vim por aqui fora, todo doido, a partir o carro todo e tu vieste atrás de mim, a poupar o teu!’.
Claro que isso não era verdade, eu não sabia de nada, tive foi sorte de [o troço] ter sido neutralizado antes de eu partir.
Banho de pó a Colin McRae
A outra história passou-se talvez nesse ano, ou no seguinte, 1999. Ainda estava com o [Peugeot] 306 Maxi.Nos reconhecimentos de Arganil, estávamos todos parados, em fila, antes do troço, à espera que o pó baixasse, para arrancarmos. Então, apareceu o Colin McRae que, sem se deter, passou por nós que nem uma flecha e seguiu troço fora, como se não fosse nada com ele.
Eu não gostei daquilo e fui atrás dele. Só que ele estava com um Subaru Impreza e eu com um [Peugeot] 306 GTi e, quando cheguei ao final do troço, já ele lá estava, sentado a almoçar com os mecânicos. Enraivecido, dei-lhe um banho de pó e parei. Então, veio ter comigo, todo chateado, a clamar que era uma falta de respeito, isto e mais aquilo. Perguntei-lhe o que achava do que tinha feito lá atrás, se isso não era uma falta de respeito, passar pelos outros pilotos todos.
A resposta dele foi que não havia nenhuma razão para estramos lá parados…
Depois disso, fizemos mais alguns ralis juntos, mas nunca mais lhe falei. Ao contrário do irmão [Alastair McRae], que estava nesse ano na Hyundai e que era cinco estrelas… e com quem falei sempre.»
Palmarés mais antigo de Adruzilo Lopes no Rali de Portugal
1988Rallye de Portugal – Vinho do Porto
Toyota Corolla GT – c./Vítor Lopes
18.º (2.º Cl.A6)
1989
Rallye de Portugal – Vinho do Porto
Mazda 323 4WD – c./Luís Lisboa
Abandono (motor)
1990
1990
Rallye de Portugal – Vinho do Porto
Mazda 323 4WD – c./Luís Lisboa
Abandono
1992
1992
Rallye de Portugal – Vinho do Porto
Citroën AX GTi – c./António Abreu
Abandono
1993
1993
Rallye de Portugal – Vinho do Porto
Citroën AX GTi
Abandono
1996
1996
TAP Rallye de Portugal
Peugeot 306 Maxi – c./Luís Lisboa
Abandono (suspensão)
1997
1997
TAP Rallye de Portugal
Peugeot 306 Maxi – c./Luís Lisboa
10.º (1.º Português e 2.º Cl.A7)
1998
1998
TAP Rallye de Portugal
Peugeot 306 Maxi – c./Luís Lisboa
14.º (3.º Português e 1.º Cl.A7)
1999
1999
TAP Rallye de Portugal
Peugeot 306 Maxi – c./Luís Lisboa
16.º (3.º Português e 3.º Cl.A7)
2000
2000
TAP Rallye de Portugal
Peugeot 206 WRC – c./Luís Lisboa
11.º (1.º Português)
2001
2001
TAP Rallye de Portugal
Peugeot 206 WRC – c./Luís Lisboa
Abandono (motor)
2002
2002
TMN Rallye de Portugal
Subaru Impreza S5 WRC’99 – c./Luís Lisboa
15.º
2003
TMN Rallye de Portugal
FIAT Punto Kit Car – c./Paulo Brandão
5.º
2005
2005
PT Rallye de Portugal
Citroën C2 S1600 – c./Jorge Henriques
Abandono
2008
2008
Vodafone Rallye de Portugal
Subaru Impreza STi N11 – c./André Cortinhas
10.º (3.º Português)
2009
2009
Vodafone Rallye de Portugal
Subaru Impreza STi N14 – c./José Janela
21.º (4.º Português)
2014
2014
Vodafone Rallye de Portugal
Subaru Impreza STi R4 – c./Vasco Ferreira
Abandono (caixa de velocidades)
in Autosport
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